19 de outubro de 2019

Amém

Auto-critica
Auto-depreciação
Auto-sabotagem
A santíssima trindade do jovem depressivo

Amargo

Saliva acumulada 
Garganta contrai de dor
Fermentam-se as refeições
Lágrimas se põem

Dúvidas formadas
Críticas acumuladas 
Ódios estabelecidos 
Culpas atribuídas 

Malícia imaculada
Retratos desprovidos de cor
Se escondem as feições 
Semelhantes se destoam 

Eterno sufoco  
Das coisas não ditas
Choro entalado 
Dos erros cometidos

A esperança é a última que morre
Já que humanos perecem antes dela 

3 de janeiro de 2018

Prazer, Vida

À procura de uma mica de sol
Em um dia frio e sem graça
Um assento vazio no metrô
Após um dia morosamente interminável

Tanto se procura e quase nunca se acha
Uma porta fechada nem sempre abre uma janela
Migalhas são motivos de rojões
E tudo o que se evita são as famosas decepções

Fuçar todos os arquivos antigos
E encontrar fotos dignas de apreciação
Vagando pelas ruas
Com a trilha sonora perfeita ao fundo

Claramente exagera-se na pretensão
De um futuro certo e cheio de felicitação
Fomentado por histórias fictícias
Ou aquela rara exceção

Os deleites cotidianos não definem uma vida
Não traçam um futuro certo
Ora garantem um estado prolongado de felicidade
Porém, todavia, entretanto, não obstante
De gozo em regojizo talvez se chegue lá

15 de abril de 2017

Tristeza 101

Bêbado, sozinho e sem vinho
Me encontro numa mesa de jantar
Sem saber o que fazer
Sem saber o que pensar

Meu coração dói
Minha cabeça lateja
Meu estômago se embrulha

A noite calma me assusta
O brilho da lâmpada incandescente queima
Só ouço minha própria respiração
E os estalos da geladeira

A mente maldita que não para
Pensa e repensa em todas as coisas ruins do mundo
Cavando prontamente um buraco sem fundo

A necessidade de aceitação e comunhão
Dilaceram lentamente a escassa motivação
Regam a angústia e a melancolia
Com amor, carinho e muitas regalias

Cinco horas da manhã:
Infelicidade permanece hasteada
Informando que a tristeza reina
E que a sua vida é terminalmente horrenda

28 de novembro de 2016

Animaus

Pessoas são como macacos prego
Só querem massagear seus egos
Pessoas são como hipopótamos
Parecem até fofas, mas são hipopócritas

Essa espécie de animais sentientes
Mais peçonhentos que muitas serpentes
Estufa o peito e mostra o rabo
Mas é sorrateiro como um rato

Ao invés de aprender algumas coisas
Com seus primos chimpanzés
Fazem birra e teimam
E no fim, não passam de manés

Profanam os nomes de outras espécies
Como se estas estivessem no segundo plano
Mas não percebem que o maior xingamento
É ser chamado de humano.

10 de novembro de 2016

Pós-modernidade

Pessoas burras
Leem posts e tweets
E creem terem cultura
Mas de cultos nada tem,
além da merda que lhes convém

E não importa quantos bytes ou bits
A informação não é adquirida
Sem algo que a codifique.
Embora muitos não o conheçam,
É o tal do bom senso

E no fim não importa o que penso
Pois o papagaio de gaiola
Repete sem problemas
propenso à demagogias,
à hipocrisias e bostejada em demasia.

Sua voz não será ouvida,
Sua luta não será validada.
Não faz parte da elitizada cúpula
De escrotos sem escrúpulos
Que putrefazem tudo em que se envolvem.

3 de outubro de 2016

E bege, é

Pesquisas indicam que 1 em cada 10 mulheres que adentram no seu vagão
roubam o teu coração.

Pesquisas também dizem
Que você se apaixona mais pelo nariz
Do que pelo seus olhos de anis

É um bombardeio de amores
De todos os tamanhos, todas as cores
Que te inspiram e provocam suspiros

No fim das contas
De todas as possibilidades
A única que domina seu coraçãozinho
É seguir em frente assim, sozinho.

16 de setembro de 2016

Monopólio infeliz

A tristeza financia a arte
Que por sua vez esvazia a cabeça
De conflitos e abismos figurativos

Máfia de lágrimas e lástimas
Corrompida por ficções
E a indústria do auto estima

Depósito gigantesco de criatividade
Agrada quem vê, ouve, sente,  cheira
E pouco a pouco corrompe quem usa
E abusa desse recurso ardiloso.

© Blog do Itamario
Maira Gall